domingo, 3 de novembro de 2019

Aprendizagem Integrada de Conteúdo e Língua Estrangeira – AICLE



Caio Werner Kramer
Erenilda Maria de Oliveira
Francisco das Chagas Marques da Silva Assis
João da Silva Costa
Data – 15/01/2018




       “O paradigma AICLE (Aprendizagem Integrada de Conteúdo e Língua Estrangeira ) é o enfoque do futuro”










Brasil - 2017 

A aprendizagem integrada de conteúdos e línguas é uma somatória no processo do ensino aprendizagem que agrega valores, porém, não tem o seu modelo para o futuro e sim para o presente, pois, já vivenciamos a necessidade e aplicabilidade em nosso cotidiano, pois com o advento da internet e as TICs, percebemos a importância da AICLE, e as simultaneidades de vivências, trocas, comunicação com outros povos, portanto, a aplicabilidade em outras línguas.
Mediante as importações e exportações compreendemos que os manuais de produtos que adquirirmos e utilizamos já estão impressos em vários idiomas. Nos intercâmbios promovidos por escolas ou empresas proporciona esses conhecimentos de forma prática que possibilita maior envolvimento com as línguas. Entendemos que, já estamos tendo na atual conjuntura, em vários seguimentos as experiências com AICLE.
Observamos também, que apesar de estarmos vivenciando todo esse processo, ainda uma grande parte da população não tem acesso a essas possibilidades de aprendizagem ou envolvimento com outra língua e seus conteúdos ou mesmo tendo possibilidades de aprender outras línguas de forma profissional, pois nem todas as escolas colocam em sua grade curricular a AICLE por não perceber a importância dessa prática desde as séries iniciais.
O objetivo da AICLE é agregar conhecimento ao indivíduo como um todo, porém, entendo que uma das barreiras é a “falta de vontade” em investir na base da educação. Perpassa pelo querer dos gestores. Esbarramos também com a falta de capacitação dos profissionais na área ou mesmo profissionais devidamente qualificados que possam assumir as disciplinas que são selecionadas para a especificação desses conhecimentos.
 Esse comportamento compromete os saberes de conhecimento de mundo mesmo tendo em conta que todo indivíduo tem direito ao aprendizado de outras línguas além da sua língua materna. Segundo, Gardner e Lambert (1959, citados por Gómez, 1999) afirmam que as primeiras experiências do indivíduo com uma segunda língua são de suma importância na formação de uma personalidade integrada em seus aspectos emocionais e intelectuais.
Em outras palavras, a globalização é um fato, não mais um exercício de comentaristas em mídias como jornais e blogs, e tudo indica que o processo é irreversível e nas últimas duas décadas, o conceito de globalização vem se expandido além do mero comercio internacional e hoje em dia já inclui o tema educação, não usando o jargão globalização, mas usando uma abordagem de universalização. Um ponto a ser observado é como se desenvolveu o processo de universalização curricular de conteúdos e línguas no mundo. Neste aspecto, a Declaração de Bolonha (1999) trouxe novas perspectivas para o ensino superior em toda Comunidade Europeia. Face a grande diversidade cultural e linguística dentro de uma mesma comunidade, é na Europa que vemos a prática da AICLE em uma de suas expressões de máxima aplicabilidade, seja no próprio nível superior com a declaração de Bolonha e todas as medidas tomadas desde então, seja em toda a estrutura escolar na prática de AICLE.
Neste sentido, Siebiger (2010) nos traz uma visão da repercussão em outros continentes da reforma da educação superior europeia, que no Brasil, entre outras, refletiu-se na criação da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e Universidade Federal da Integração Amazônica (Uniam) e da criação da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Lançada em 2007, a proposta foi aprovada na Câmara dos Deputados em 2009 pelo Projeto de Lei n. 2.878/2008 e em 12 de janeiro de 2010, o Governo Federal, por meio da Lei n. 12.189, criou oficialmente a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), situada fisicamente na cidade do Foz do Iguaçu (PR), tendo como premissa, conforme texto da lei, a “atuação nas regiões de fronteira, com vocação para o intercâmbio acadêmico e a cooperação solidária com países integrantes do Mercosul e com os demais países da América Latina”.
Neste sentido, o Projeto da Unila prescreve a reserva de 50% das suas vagas para alunos brasileiros e a outra metade a alunos de outros países latino-americanos signatários, tendo os cursos ofertados serão bilíngues (aulas em espanhol e português) e com abordagem interdisciplinar. Os cursos superiores cobrem todas as áreas do conhecimento e a Unila prevê um processo de equivalência curricular bem como de transferência e aproveitamento de créditos, reconhecimento de títulos e o estímulo à mobilidade acadêmica interinstitucional entre os países-membros.
De uma forma geral tanto no caso europeu como no caso da Unila no Brasil, uma maior facilidade e quiçá, sucesso do desempenho estudantil, está na preparação do aluno em desenvolver, previamente ao ingresso nas instituições de nível superior, o estudo de conteúdos em línguas não-materna. A prática da AICLE, como muito já discutido, integra o conteúdo, a língua e as competências e expõe o aluno, mesmo que já com habilidade linguística obtida domesticamente (CCIB ou Competências Comunicativas Interpessoais Básicas) a avançar na complexidade cognitiva e passar a um nível mais complexo do domínio da língua (DCLA ou Domínio Cognitivo da Linguagem Acadêmica). Neste aspecto, e considerando as hierarquias cognitivas de Bloom (1974), a aprendizagem conjunta de uma língua (seja materna ou uma segunda língua) em conjunto com a aprendizagem de conteúdos leva o aluno aos mais elevados graus da cadeia cognitiva, realizando pleno ato da aprendizagem.
Depois de percorrida estas considerações sobre a necessidade de aplicar nas práticas AICLE desde já nas escolas, por onde apresentamos os motivos que nos fez julgar a favor da adoção das práticas AICLE, voltemos nossa atenção às questões sobre sua aplicabilidade.
A prática AICLE prevê a convergência do aprendizado simultâneo de língua e conteúdo. Em considerando a premissa "every learning is language learning" (the key slogan of LAC -  Languages Across the Curriculum, Council of Europe (European Centre for Modern Languages, Graz, 1997), que em uma tradução livre seria “Todos os professores de línguas são professores de conteúdo”, já nos dá uma perspectiva da confluência dos aspectos de conteúdo, a língua e as competências.
 Nos modelos clássicos da organização da Escola (e todos os seus valores como instituição de ensino), línguas (seja a língua materna ou uma segunda língua) e demais conteúdos como matemática, química, história, entre outros, são disciplinas distintas e estanques. Mas de fato, esbarramos na condição de que não se aprende um conteúdo sem aprender uma língua, visto haver necessidade, a cada degrau da evolução das disciplinas, seja em sua especialização de temas seja na abertura de novos temas, de se adequar o vocabulário utilizado bem como a devida construção mental das ideias afins relacionadas. Esta abordagem corrobora a afirmação de que “Todos os professores de línguas são professores de conteúdo” e mais, podemos também colocar que “todo professor de conteúdo é professor de língua”.
Mas ao se chegar nesta parte de nossa reflexão sobre AICLE, com base nos argumentos, premissas e fatos apresentados, não temos mais dúvidas sobre a necessidade ou não de implantar o AICLE, mas nos vem as perguntas: quais disciplinas implantar o AICLE, quem serão os professores e quais os contextos didático-pedagógico será feita esta implantação e quais materiais utilizar.
Neste contexto, em referência a pesquisa “Eurydice” (2006) da Comissão Europeia, experts chegaram a conclusão que qualquer disciplina das oferecidas pode ser escolhida para AICLE. Por outro lado, observando-se as hierarquias cognitivas de Bloom (1974), a aprendizagem conjunta de uma língua (seja materna ou uma segunda língua) em conjunto com a aprendizagem de conteúdos leva o aluno aos mais elevados graus da cadeia cognitiva, ou seja, a AICLE deve ser aplicada em disciplinas eu se façam uso destes elevados graus da cadeia cognitiva, tipicamente praticado em disciplinas de ciências sociais, história e geografia, que são consideradas disciplinas “linguisticamente ricas”.
Ao tentar trabalhar em outras línguas o professor mantém uma estreita relação entre ensinar e estar habilitado com um novo conhecimento, uma nova língua, a formação do professor não o habilita para outras linguagens, e trabalhar conteúdos sem uma formação apropriada é uma corda bamba muito difícil de manusear na sala de aula, ensinar outras línguas é ir além do que pede a formação do professor, e como estar nesse ciclo de educação sem uma formação adequada? Como o professor é multicultural é preciso se desdobrar em muitos e em outras línguas, e os conteúdos precisam ser bem preparados para que a frustação não seja dupla.  
Como a AICLE não é obrigatória, mas, é necessária no sistema de aprendizagem do aluno, o professor precisa passar por uma formação em línguas diferentes, não para ser fluente, mas com um embasamento avançado para trabalhar os conteúdos na sala de aula. É fundamental que se precise conhecer inglês, espanhol, francês, e assim adaptar o material para a educação dos estudantes.
Criar já exige um pouco dos conhecimentos do professor, por que a vida corrida do professor exige muito e se torna mais fácil adaptar que criar. Não seria de muito valia importar professores para a aplicação de uma metodologia a ser trabalhada em outra língua, logo por que custaria caro para o sistema de educação e, pois, seria um avanço muito grande e tornaria confuso a aprendizagem do aluno, uma vez que o mesmo não entende muito de uma outra língua. Investir na formação do professor seria a correto a fazer até mesmo por que deixaria o professor atualizado dentro de muitos conteúdos e outras informações necessária a formação do aluno dentro do sistema de ensino e aprendizagem.
 Muitas instituições de ensino adotaram, anos atrás, a premissa que “a globalização é um fato”, e também aproveitando a necessidade de algumas famílias que, por motivos usualmente profissionais, necessitam passar um certo período no exterior e por isso, necessitam que seus filhos frequentes instituições escolares com currículos propostas pedagógicas semelhantes e reconhecidas internacionalmente, foi desenvolvido o programa IB - International Baccalaureate (www.ibo.org).
O programa IB consiste na disponibilização de um programa comum, dividido em 4 categorias: Primary Years Programme, Middle Years Programme, Diploma Programme e Career-related Programme, sendo cada programa voltado para uma faixa etária / situação escolar do aluno (por exemplo, os dois primeiros programas no Brasil são aplicados na educação infantil e ensino fundamental I (PYP) e no ensino fundamental II (MYP) e podem ser desenvolvidos em três idiomas (não simultaneamente): inglês, espanhol ou francês.
Uma escola que adote o programa IB tem seu projeto pedagógico original alterado para atender os requisitos IB (e com isso, poder ser uma escola IB certificada) bem como deve atender aos requisitos locais referentes a educação formal. No caso de escolas IB brasileiras, elas devem atender a toda legislação federal, devendo seguir a LDB.
O programa se desenvolve focado no conceito AICLE, onde um grupo de disciplinas são lecionadas no idioma escolhido pela instituição. Além das determinações regulatórias, a proposta pedagógica das disciplinas deve considerar que “os programas IB incentivam a realização pessoal e acadêmica, desafiando os alunos a se destacarem em seus estudos e no seu desenvolvimento pessoal”.
Hoje no Brasil, conforme site International Baccalaureate Organization, tem 29 instituições escolares autorizadas e praticando os princípios IB, com a aplicação de AICLE em múltiplas disciplinas formando compreende oito grupos de assuntos: Aquisição delinguagem, Linguagem e literatura, Indivíduos e sociedades, Ciências, Matemática, Artes, Educação física e de saúde, e Projetos educacionais.
O programa IB exige pelo menos 50 horas de tempo de ensino para cada grupo de assunto em cada ano do programa, totalizando cerca de 400 horas de disciplinas lecionadas na modalidade AICLE. Apenas como referência, pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que regulamenta a Educação no Brasil, as escolas devem cumprir, no mínimo, 800 horas letivas no ano, em pelo menos 200 dias letivos anuais,
Nos anos mais adiantados do programa, as escolas têm a opção de fazer disciplinas de seis dos oito grupos apenas, para proporcionar maior flexibilidade para atender aos requisitos legais locais e às necessidades individuais de aprendizagem dos alunos conforme projeto pedagógico institucional. Os materiais didáticos e de apoio são desenvolvidos pela própria International Baccalaureate Organization.
Tomando como exemplo a Escola Esfera de São José dos Campos, SP, voltada para a educação infantil e fundamental (I e II), esta é certificada pela International Baccalaureate Organization e adota o programa IB PYP e MYP na modalidade AICLE. A opção do idioma para a prática do AICLE foi o inglês (mas também tem disciplina de língua estrangeira , em espanhol). Os materiais didáticos são basicamente materiais apostilados seguindo tanto o conteúdo programático definido pela LDB e regulação complementar como também atendem as exigências de conteúdo definido nos programas da IBO.
A Escola Esfera tem no seu corpo docente professores regulares que lecionam na língua nativa (português) as disciplinas que não compõem o escopo IB bem como para as disciplinas IB lecionadas em AICLE, tem um corpo docente composto por 10 profissionais dedicados a este programa, sendo metade de professores brasileiros capacitados em lecionar no idioma inglês e metade dos professores nativos de países de língua inglesa, sendo, nesta escola, pessoas oriundas da Inglaterra (3) e Austrália (2).










REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BLOOM, Benjamin S. et al. Taxionomia de objetivos educacionais; volume I: domínio cognitivo. Porto Alegre: Globo, 1974.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases. Lei N° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em 05 jan. 2018
GARDNER, R. C; LAMBERT, W. E. Motivational Variables in Second Language Acquisition. Canadian Journal of Psychology, v. 13, 1959, p. 266-272.
SIEBIGER, R. (2010). O processo de Bolonha e os novos espaços transnacionais de educação superior latino-americanos: a universidade brasileira em movimento. Cadernos PROLAM/USP, 9(17), 119-135. doi:http://dx.doi.org/10.11606/issn.1676-6288.prolam.2010.82439, consultado em. http://www.revistas.usp.br/prolam/article/view/82439/8

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