sexta-feira, 3 de abril de 2020

A interculturalidade como inclusão social e pessoal

 

Dentro dos padrões de convivência, as diferenças, tanto étnicas quanto sociais, são pontos de discussão que abrem um viés para que se possa chegar a um âmbito de vivência agradável. Evidentemente que não são somente esses dois traços que acaloram a discussão, mas são tidos como base para que se possa viver em sociedade, independentemente da origem do indivíduo. Como ponto de inclusão entre seres aculturados, a educação tem uma missão ampla e composta, deve conseguir aliar sociedade e cultura dentro de um ambiente sem acontecer colisão ou exclusão dos indivíduos, sintonizando as diferenças culturais e tornando a sociedade mais maleável e compreensiva.
Dentro de muitos padrões, a interculturalidade é uma novidade que se espalha e encontra barreias para ser aceita, embora haja muito tempo que o homem viva trocando experiências culturais, ainda assim encontra pontos de dificuldades para ser aceito dentro de uma cultura que não é a sua de origem. Para Cámara e Pantoja (2014, p. 38): “Nesse sentido, as estruturas culturais não são um acréscimo à existência humana, são uma condição de possibilidades. Ainda em múltiplas culturas diferenciadas”. Mesmo dentro de uma cultura que tem uma série de variedades culturais, aceitar um indivíduo que seja de outro local se torna um obstáculo para os cidadãos, porque não sabem lidar com esse ser de tendências diferentes.
O primeiro desígnio de alguém que vê as múltiplas variedades culturais adentrarem no seu ciclo de vivência é manter-se afastado ou afastar o indivíduo que, para a sua visão, é um “invasor”. Portanto, deve se avaliar para que se percebam as mudanças que ele terá de fazer para se adaptar à vida dentro da sociedade e quais reformulações esse novo indivíduo provocará. Conforme Cámara e Pantoja (2014, p. 38): “Em definitivo, dado que o ser humano é constitutivamente multicultural, a opção lúcida não vai na linha de combater essa multiculturalidade, mas na de regulá-la   visando evitar seus excessos e dinamizar suas potencialidades”. Para o processo ser de uma integração cultural é preciso que se potencializem todos os saberes. Ambos os lados devem estar abertos para que a troca de conhecimentos seja mútua e significante, tanto para quem estar recebendo alguém de outra cultura, como para quem está chegando a um novo ambiente cultural.
Como forma de integração social, a interculturalidade baseia-se em todos os modos de convivências possíveis, agregando conhecimentos, ao mesmo tempo em que expõe seus saberes. Amplamente vista como uma nova tendência de integração cultural, a interculturalidade é uma abordagem que visa respeito entre cidadãos e um clima de convivência amigável entre pessoas e suas características singulares, que pode gerar uma aceitação entre cidadãos. Segundo Cámara e Pantoja (2014, p. 39): “Suas finalidades entram em cheio no campo da ética, do compromisso pessoal e da justiça; são atitudinais, e procedimentais, tanto ou mais que cognoscitivas”. Ao receber um ser de outra cultura, tudo deve ser levado em consideração, desde os primeiros contatos até a forma de relacionamento em relação ao respeito pelo novo que esse indivíduo traz para a sociedade atual.
A percepção de um novo fato, um novo costume, uma nova aprendizagem é um componente muito relevante para a sociedade receptora: Cámara e Pantoja (2014, p. 39): “Nessa perspectiva, as diferenças culturais não são percebidas como déficits ou como carências, mas como algo natural”. Essa amostra de cultura pela sociedade receptora é uma ação de cumplicidade no quesito aceitação e, ao mesmo tempo, é umato civilizatório, demostrando respeito e compreensão pela cultura do outro.

1.2 Bases que sustentam a interculturalidade


Vários âmbitos educacionais estão dando sustentabilidade sólida no processo de formação da educação intercultural; algumas fundamentações estão dando embasamentos que sustentaram e farão a interculturalidade ter uma grande valia para a construção de uma sociedade mais justa e cidadã. Tanto a antropologia quanto a psicologia e a pedagogia estão sendo as correntes teóricas que possibilitarão a interculturalidade ser um elo entre a cultura que recebera um novo indivíduo e as várias formas de integração social. Para Cámara e Pantoja (2014, p. 44): “Referimo-nos a conceitos como cultura, grupo étnico, minoria cultural, marginalidade, subcultura, aculturação, etc.”. Esses referidos tópicos são os conceitos que podem afastar os indivíduos de uma sociedade ou pode uni-las se forem pelo menos razoavelmente entendidos; com essas contribuições da antropologia é possível levar a cultura e a educação juntas em uma mesma direção que culminará na melhor maneira de fazer a ligação entre interculturalidade e educação. Antropologicamente, várias contribuições ajudam o processo intercultural a se desenvolver com mais facilidade dentro de uma sociedade. Essas contribuições elevam a cidadania a um grau maior que poderá levar a uma convivência respeitosa e harmônica.
Interagir e construir as relações humanas fazendo uma integração entre vários grupos, mostrando a interação e o nível cultural e fazendo uma descoberta nova a cada entrosamento, possibilitando, assim, respeitar e ser respeitado pelas diferenças. Ao mesmo tempo em que se colocam como ponto positivo  as relações pessoais e culturais, a interculturalidade e a antropologia buscam mostrar a sociedade como é possível manter uma ligação entre educação, cultura, respeito, interação e construção de uma nova realidade. Consoante Cámara e Pantoja (2014, p. 45): “Uma interessante contribuição antropológica a partir da crítica realizada ao relativismo cultural; essa crítica tem gerado novos enfoques antropológicos interacionista e construtivista a darem ênfase ao dinamismo e ao intercâmbio de todo contato entre culturas”. Essa interação entre culturas torna mais fácil e compreensiva a interculturalidade dentro de um ponto de vista antropológico.
Também é possível facilitar a compreensão da interculturalidade pelo campo da sociologia, que estuda a formação dos grupos, o sistema educacional e as relações sociais, assim como as aceitações pelas tradições culturais, as relações de gêneros e os ensinamentos de cada cultura, bem como as absorções e transmissões mútuas de conhecimentos. Para evidenciar melhor as contribuições da sociologia, pode-se destacar a etnocultural como uma forma de quebrar ou de construir meios para a interação, simultaneamente cuidando para que haja uma maior integração entre culturas, uma maior igualdade dentro do campo social, assim como o respeito pelas diferenças, crenças, tornando a cultura um bem coletivo.
Dentro do enfoque sociológico que ressalta as relações pessoais e culturais, o meio educacional é um dos mais visados por proporcionar aos alunos locais oriundos de outra região, a interação pessoal e o coleguismo escolar para que as culturas possam ser respeitadas e se atinjam os objetivos educacionais e sociais. Ao mesmo tempo em que a antropologia e sociologia se mantêm empenhadas para fazer a interculturalidade funcionar no contexto social e cultural, a psicologia também coloca suas contribuições com dois empenhos distintos. Primeiro indica o social como uma relação extremamente importante, pois  esse lado de interação social está como uma base para um bom relacionamento interpessoal e cultural, uma vez que esses contatos têm uma relação de culturas, multiculturas, baseando-se em uma troca de conhecimentos favoráveis a ambas as partes. Para que não exista um sentimento de perda ao se adentrar em outra cultura é preciso que a psicologia esteja como mediadora no processo de interculturalidade.  
Como auxiliar da sociologia, da psicologia e da antropologia, a pedagogia traz sua contribuição de extrema importância, pois adentra no contexto educacional, trazendo para o convívio social e pessoal o respeito pelas diferenças étnicas, sexuais, financeiras, sejam quais forem, agregando uma construção de conhecimentos mútuos, dando um real significativo à educação e seu contexto cultural. Como mediadoras da interculturalidade, essas modalidades de ensino-aprendizagem citadas contribuem para a formação do homem como cidadão e formam pessoas que aprendem a não discriminar, a ensinar para aprender e aprender para ensinar, auxiliando significativamente para o conhecimento de outras culturas e até mesmo do ato de conviver com pessoas que tem formas diferentes de enxergar cada item da sociedade onde vivem ou onde passaram a viver. A interculturalidade é uma novidade no meio educacional e precisa ser trabalhada para que não haja discriminação por nenhum ângulo de um indivíduo.

1.3 A educação intercultural e seus modelos de ensinamentos

O racismo como um dos fatores mais favoráveis ao desligamento de um aluno da escola deve ser colocado como ponto de estudo nas salas de aula para que a educação seja completa e não somente centralizada como uma construção dentro de uma sociedade que se expande e agrega conhecimentos culturais.
 Para Cámara e Pantoja (2014, p. 45):

O racismo é uma ideologia que justifica a defesa de um sistema segundo o qual certos indivíduos gozam de algumas vantagens sociais decorrentes de sua pertinência a um determinado grupo. O racismo é um fenômeno complexo no qual intervêm múltiplos fatores: econômicos, políticos, históricos, culturais, sociais, psicológicos.

Usar de racismo pode não ser uma falta de respeito, mas de proteção do que se construiu dentro de uma sociedade e que aos poucos as pessoas vêm se apoderando. A partir de todos esses fatores, a educação precisa estar fazendo a interligação de pessoas oriundas de outras culturas e possibilitando seu acesso e sua continuação para que não exista um aculturamento com perdas e, sim, uma aceitação pelas diferenças.
O que se trabalhara na educação antirracista é a aceitação do ser como alguém que pode agregar em seu aprendizado uma variedade de conhecimentos culturais e que mesmo estes sendo diferentes na sociedade que está inserido, merece respeito pelas suas referências culturais. Em suma, o que uma educação intercultural deve promover para atingir seus objetivos é: “1. Reconhecer e aceitar o pluralismo cultural como uma realidade social. 2. Contribuir para a instauração de uma sociedade de igualdade de direitos e de equidade. 3. Contribuir para o estabelecimento de relações interétnicas harmoniosas” (CÁMARA e PANTOJA, 2014, p. 45). A educação tem o papel de extrema importância para que a interculturalidade seja uma realidade vivida e aceita na nova sociedade à qual o indivíduo vai adentrar, ela deve guiar os receptores na aceitação do recém-chegado assim como também deve guiar A educação intercultural dentro de seus vários modelos converge para uma aceitação e um respeito entre indivíduos que se socializam e se respeitam por suas diferenças, seja em um contexto holístico (onde os valores se refletem em uma diversidade cultural, ao mesmo tempo em que convergem para a valorização da etnia, da cultura e do pluralismo intercultural), seja dentro da educação global (que valoriza a educação da valorização de todas as culturas).
Mesmo existindo essa preocupação com os valores educacionais e culturais, outro modelo de educação que tenta fazer essa interligação cultural é a educação bicultural[1]. Conforme Cámara e Pantoja (2014, p. 45): “Direitos de manterem sua identidade bicultural (identificação com a cultura de origem e assunção construtiva dos valores da cultura dominante)”. Com essa vivência em um meio cultural que não é o seu, é preciso entender que o ambiente cultural maioritário não deve nunca sublimar sua cultura, mas aliar a ela conhecimentos, respeito e boa convivência.
A educação intercultural visa formar cada pessoa para que a cultura do outro seja reconhecida como uma forma única de cada um; que a diversidade cultural seja uma aprendizagem com resultados a curto, médio e longo prazo; que cada grupo cultural seja visto como uma extensão da sociedade e não como indivíduos marginalizados pelo sistema; que a educação cultural seja uma das fundamentações básicas da educação envolvendo comunidades, grupos culturais de todas as tribos étnicas e de todos os nichos sociais.

1.4 A diversidade cultural e a educação 

A vivência em comunidade é uma tentativa que há muito tempo vem sendo feita nas sociedades e que, atualmente, vem chegar outros indivíduos de culturas diferentes, e ao se mesclarem esses tipos de culturas em um mesmo lugar, acaba-se gerando uma forte aprendizagem de todos os lados. Ao se fundirem tantas culturas, constrói-se uma rede de diversidade cultural capaz de elevar a educação ao seu mais alto patamar, criando-se um sistema capaz de educar com base nas aprendizagens e nos ensinamentos culturais. Para Cámara e Pantoja (2014, p. 57): “As culturas tendem a considerarem-se homogêneas e a esfumaçar toda a diversidade interna quando se comparando ou contrastando com outras diferentes; a isso se denomina diversidade intercultural”. As culturas entram em um modo de alerta quando se sentem invadidas por outras culturas de modo a se fecharem sem deixar espaço para o visitante; esse muro criado pela cultura dominante deve ser derrubado pela educação que, dentro das suas perspectivas, deve educar para que a cultura dominante aprenda a conviver com outras culturas sem perder suas raízes, vivendo em uma cadeia de diversidades culturais.
A globalização está em um estado de avanço gigantesco e cria uma dualidade entre as culturas que consegue abranger, implantando costumes e trazendo novidades e conceitos de outros países que até então eram desconhecidos e, paralelo a isso, acaba infiltrando novos indivíduos com hábitos culturais distintos em sociedades que não estavam habituadas à outra cultura. Junto a isto, a educação encontra uma resistência em não preparar professores voltados para encararem a interculturalidade como uma base na formação dos alunos. Construir e descontruir conceitos cabem ao educador na sala de aula e, para tanto, a sua formação deve estar voltada também para as multiplicidades culturais e aliada à globalização com educação numa formação mais cidadã.
Para Cámara e Pantoja (2014, p. 58): Em um momento em que a cultura está cada vez mais desterritorializada, com um aumento constante do volume e da velocidade de transmissão de informação e da difusão incontrolada de características culturais, cabe reconsiderar as presumíveis áreas culturais separadas.   

Com o advento das tecnologias de informações, os fatos circulam rápidos demais, percorrendo assim muitas culturas, infiltrando hábitos e costumes em locais que são fechados e não preparados para essa enorme globalização. Tanto a globalização quanto a tecnologia estão muito avançadas, e a educação ainda não conseguiu acompanhá-las a ponto de realizar um trabalho satisfatório para alunos e sociedade. Mesmo assim, a educação tem avançado muito em todos os campos educacionais relacionados à interculturalidade, mostrando como é viver em locais com muitas culturas e mesmo assim respeitá-las pelas suas diferenças.
Dentro do campo educacional e cultural, a diversidade é uma onda gigantesca que abrange cada vez mais a sociedade, criando e mostrando como é fácil aprender e como se deve ensinar a novos membros os costumes da sociedade à qual ele está inserindo. Ao se falar de diversidade cultural engloba-se todos os pontos possíveis sobre a cultura do indivíduo que se insere numa outra cultura. Conforme Cámara e Pantoja (2104, p. 58): “Assim é que sociedades relativamente homogêneas tornam-se sociedades multiculturais, falando-se da ‘explosão da diversidade’ cultural, étnica e racial no seio das cidades e povoados que estão recebendo importante quantidade de imigrantes”. Assim se faz a interação entre culturas, discutindo e valorizando saberes sejam eles oriundos de onde for, colocando, portanto, em prática a combinação entre cidadania e educação para poder ampliar os horizontes que formam uma sociedade que tem na sua base a educação e respeito.
A construção de uma sociedade interculturalista não se baseia somente em receber bem o imigrante, mas de integrá-lo dentro da cultura local e aceitá-lo com suas particularidades, sejam elas sobre a língua, sobre a etnia ou a crença. A educação deve centrar-se na formação do imigrante como se ele fosse nativo e não somente um passageiro; o bilinguismo precisa ser um dos menores problemas, uma vez que a cultura ainda é a base de um individuo.
Para Candau e Kelly (2010, p.157):
Na nova configuração, o bilinguismo deixa de ser visto apenas como estratégia de transição ou meio para manutenção de uma cultura ameaçada, para ser inserido em um discurso mais amplo, onde a perspectiva intercultural pressiona o modelo escolar clássico e inclui nela não apenas diferentes línguas, mas, sobretudo, diferentes culturas.

O processo de comunicação é importante, mas é preciso que se mantenha a cultura como a base que sustenta o cidadão onde ele estiver. A escola deve estar sempre um passo à frente nesse processo de formação do educador, para que o mesmo seja uma referência no sistema educacional, fugindo do sistema clássico e adentrando numa modernidade cultural, criando um ambiente escolar repleto de novidades culturais. Pois se se entende a cultura como a base de sustentação de uma sociedade, tudo deve ser levado em consideração.
Para Cámara e Pantoja (2014, p. 60):

Como um horizonte de diálogo e negociação, em que compreender as outras culturas é indispensável para compreender a própria e onde a partir do conhecimento e respeito pelo próprio se constrói a capacidade de conhecimento e respeito do diferente.

A construção de uma sociedade está alicerçada na educação, que abre caminhos para a compreensão do ser em sua plenitude, para que assim possa se reconhecer e reconhecer os outros como pivô da ligação que sustenta a comunidade à qual está inserido. Mostrar respeito pelo próximo, independente de sua cultura, é fundamental, uma vez que a cultura é o que   
nos mostra quem somos e como a diversidade cultural pode ser uma valiosa aliada na educação de toda uma sociedade.


Consoante Freire (1985, p. 34):
A cultura não é só a manifestação artística e intelectual que se expressa no pensamento. A cultura manifesta-se, sobretudo, nos gestos mais simples da vida cotidiana. Cultura é comer de modo diferente, é dar a mão de modo diferente, é relacionar-se com o outro de outro modo. A meu ver, a utilização destes três conceitos – cultura, diferenças, tolerância – é um modo novo de usar velhos conceitos. Cultura para nós, gosto de frisar, são todas as manifestações humanas, inclusive o cotidiano e é no cotidiano que se dá algo essencial: o descobrimento da diferença.

A cultura de cada indivíduo é o seu cartão de apresentação, e suas expressões estão ligadas à forma como ele aprendeu a diferenciar-se no meio em que vive. A cada nova descoberta de algo no cerne de uma manifestação cultural, a formação do homem se estabelece e se fortalece num contexto social onde as pessoas acabam se reconhecendo e se encontrando dentro de uma sociedade que abre espaço para todas as diferenças culturais. Para Cámara e Pantoja (2014, p. 71): “As pessoas se identificam no decorrer de um processo de interiorização com grupos e traços com que se definem, e que descobrem como próprios e definidos do próprio ser pessoal”. São  esses conhecimentos que formam e estruturam a cultura de uma sociedade e no segmento desses padrões de diferenças cada ser é único e diferente, sendo capaz de receber e proporcionar aprendizagens grandiosas.
Mesmo estando dentro de seu próprio país, mas mudando de uma região para outra, a cultura de uma pessoa será ainda vista de forma diferente, seja pela linguagem, seja pelas suas características étnicas e até mesmo pela diferença social. A não aceitação de uma pessoa pela nova sociedade que elaadentra torna-se uma dificuldade com obstáculos incontáveis e desnecessários, mas a sua identidade não se perde quando se passa de uma cultura para outra: “A identidade não é só uma autopercepção, mas uma relação dinâmica e interativa com os outros” (CÁMARA e PANTOJA, 2014, p. 71). Dentro de cada sociedade, a interação deve ser uma constante para que não se percam as memórias e as aprendizagens; para que se fortaleça a sua condição humana e a noção de que suas diferenças necessitam de respeito, assim como as distinções dos outros também: “O nicho cultural em que iniciamos a vida, as primeiras experiências, a família, as amizades e relações marcarão e colorirão afetivamente nossa pessoal trajetória indenitária” (CÁMARA e PANTOJA, 2014, p. 72). Desde a infância são construídas memórias que sustentaram a formação do cidadão e moldaram seu caminhar – e ao trilhar um caminho dentro de uma sociedade, ergueram com base sólida sua identidade cultural.
As culturas que se entrelaçam através dos indivíduos acabam por se fortalecerem pela troca de experiências e de conhecimentos e geram respeito mútuo, criando uma sociedade de muitas culturas ao mesmo tempo em que o respeito é a base que liga seres culturais, respeitando-se as diferenças: “O outro nos faz compreender e apreciar nossa própria identidade” (CÁMARA e PANTOJA, 2014, p. 73). Vendo o outro é possível ver o reflexo do que somos e a compreensão de nossos defeitos, ao mesmo tempo em que se aprende a respeitar as diferenças de outrem. Para a educação, a interculturalidade é uma construção forte e que tem como alicerce a contribuição da cultura aliada à formação do homem construindo uma sociedade mais justa e humana, proporcionando, com efeito, igualdade entre pessoas e minimizando as diferenças socais, étnicas, culturais, ou seja, toda diferença deve ser respeitada.
   
A interculturalidade e seus agentes educacionais Dentro da sociedade, com uma grande variedade de culturas, a educação é a primeira a fazer essa ligação entre alunos e uma nova sociedade, e o professor é o elo que conduz conhecimentos e entrosamentos entre pessoas com ideias e aprendizagens diferentes. A educação é o viés de interlocução que tem a maior abrangência e por isso exige seriedade na sua realização, ampliando, assim, os horizontes dos alunos e fortalecendo a base feita pelo educador dentro e fora da sala de aula.
Ao colocar o aluno em contato com uma nova cultura outro mundo se abre e é preciso fazer com que todos os conteúdos sejam expostos para que possa existir uma maior linha de conhecimento para o educando que adentra em uma nova cultura, como, por exemplo, o saber ser, saber estar. Essa aprendizagem aparece na interação do novo aluno com o aluno que já conhece os modos culturais do local onde vive. Conhecimentos de símbolos, convivências de grupos culturais e sociais devem ser apresentados ao indivíduo que é recém-chegado na cultura local para que o mesmo não se sinta excluído e aprenda a ser um novo ser sem perder suas características culturais originais.
Toda cultura tem seus valores e suas atitudes e a aprendizagem do aluno que está chegando à outra localidade vai depender da forma como o seu entrosamento será abordado pelo professor: “A habilidade para relacionar as representações presentes na cultura dos alunos com a identidade cultural de seus interlocutores” (CAMARÁ e PANTOJA, 2014, p. 89). É função da escola, junto com todo o seu corpo escolar, fazer essa ligação entre indivíduos (que vêm de outras localidades) com a comunidade local para que a educação aplique a interculturalidade de forma única e segura nos novos cidadãos. Para interligar novos cidadãos em uma cultura não se deve centrar a sua formação apenas na linguagem, mas em todo o conjunto de saberes e valores que compõem uma sociedade. Aspectos formais e não formais devem ser colocados para o novo cidadão e fazê-lo entender suas diferenças e similaridades entre a sua cultura de origem e a nova cultura à qual está sendo inserido. .  
A interculturalidade, por se tratar de algo ainda recente dentro da realidade brasileira, está caminhando a pequenos passos, mas sua eficácia se traduz na forma como pessoas vindas de outros países acabaram se adequando à cultura local, perfazendo valer a educação e a sua interação em apresentar a língua, a cultura, os valores e o respeito que se demostra com o outro. Ao traduzir essa linguagem educacional para o novo cidadão, lhe é resguardado o direito de conhecer novos costumes e, ao mesmo tempo, interagir com eles, mantendo a sua cultura raiz como base de sua cidadania, do seu ser cultural que é rico em valores e costumes, podendo, assim, retransmiti-la futuramente a outros de sua linhagem.
Para colaborar com a interculturalidade ainda se pode citar a AICLE[1], que auxilia o professor no processo de compreender e fazer outros alunos internalizarem a língua materna e outra língua, ou seja, um processo bilíngue que facilita muito no engajamento de um indivíduo em outra cultura. Por existir cada vez mais uma globalização estendida em todo o mundo, aprender uma segunda língua se torna parte de um processo educacional que transporta o aluno para outra cultura, mesmo ele estando dentro da sala de aula. Nesse sentido, a AICLE deve ser uma excelente auxiliar no processo de interculturalização do indivíduo. Sabendo-se que ferramentas tecnológicas são objetos usados para o processo de comunicação e educação, pode-se colocar a AICLE como colaboradora da interculturalidade interculturalidade para que projetos de integração sejam elos de colocação do novo ser em uma nova cultura – e daí a sua importante parceria na tríade educação-interculturalidade-cidadania.
Importante salientar a dedicação do professor para essa interação sobre linguagens culturais, porque dela partirá a formação do aluno na sua nova comunidade cultural. Dentro dessa perspectiva, cabe à escola ser a melhor gestora e ao professor ter uma boa formação para que alunos não fiquem à margem de uma sociedade cultural ou educacional. É elemento essencial do currículo escolar criar métodos para que a interculturalidade possa fazer parte da grade de disciplinas e, assim, ajudar na formação de novos alunos e que essa instrução seja ampliada para uma convivência de respeito entre culturas e dotada de responsabilidade social e educacional.
Mesmo diante de um grande crescimento educacional, a interculturalidade vem sendo pouco trabalhada e não é por culpa das escolas, mas por que a formação do professor só começou a discutir muito recentemente a interculturalidade como parte da matriz curricular, seja nas escolas, seja na universidade. Para os padrões europeus, a interculturalidade está sendo bem desenvolvida, mas no Brasil os debates ainda são lentos e, mesmo assim, não se aplicam em toda escola que recebe pessoas oriundas de outros países.
Com a crescente onda de emigração e a aceitação desses emigrantes em outra cultura, faz-se necessário uma mudança no currículo escolar para que a educação passe a internalizar a interculturalidade como um processo de integração cultural valioso, com a troca de informações, de valores e de conhecimentos, elevando assim, a cultura local e a cultura raiz de cada indivíduo, não deixando morrer as suas origens culturais e proporcionando ao aluno um ganho de conhecimentos sem deixar morrer suas experiências adquiridas na sua cultura natal.





[1] Aprendizagem integrada de conteúdos e línguas.
  


[1] Se utiliza bicultural para não utilizar minoritário.