Caio Werner Kramer
Erenilda Maria de Oliveira
Francisco das Chagas Marques da Silva Assis
João da Silva Costa
Data – 15/01/2018
“O paradigma AICLE (Aprendizagem Integrada de Conteúdo e Língua Estrangeira ) é o enfoque do futuro”
Brasil - 2017
A aprendizagem integrada de conteúdos e
línguas é uma somatória no processo do ensino aprendizagem que agrega valores,
porém, não tem o seu modelo para o futuro e sim para o presente, pois, já
vivenciamos a necessidade e aplicabilidade em nosso cotidiano, pois com o
advento da internet e as TICs, percebemos a importância da AICLE, e as simultaneidades
de vivências, trocas, comunicação com outros povos, portanto, a aplicabilidade em
outras línguas.
Mediante as importações e exportações compreendemos
que os manuais de produtos que adquirirmos e utilizamos já estão impressos em vários
idiomas. Nos intercâmbios promovidos por escolas ou empresas proporciona esses
conhecimentos de forma prática que possibilita maior envolvimento com as
línguas. Entendemos que, já estamos tendo na atual conjuntura, em vários
seguimentos as experiências com AICLE.
Observamos também, que apesar de estarmos
vivenciando todo esse processo, ainda uma grande parte da população não tem
acesso a essas possibilidades de aprendizagem ou envolvimento com outra língua e
seus conteúdos ou mesmo tendo possibilidades de aprender outras línguas de
forma profissional, pois nem todas as escolas colocam em sua grade curricular a
AICLE por não perceber a importância dessa prática desde as séries iniciais.
O objetivo da AICLE é agregar conhecimento ao indivíduo
como um todo, porém, entendo que uma das barreiras é a “falta de vontade” em
investir na base da educação. Perpassa pelo querer dos gestores. Esbarramos
também com a falta de capacitação dos profissionais na área ou mesmo
profissionais devidamente qualificados que possam assumir as disciplinas que
são selecionadas para a especificação desses conhecimentos.
Esse comportamento compromete os saberes de
conhecimento de mundo mesmo tendo em conta que todo indivíduo tem direito ao
aprendizado de outras línguas além da sua língua materna. Segundo, Gardner e Lambert (1959, citados por Gómez, 1999)
afirmam que as primeiras experiências do indivíduo com uma segunda língua são
de suma importância na formação de uma personalidade integrada em seus aspectos
emocionais e intelectuais.
Em outras palavras, a globalização é um fato, não mais
um exercício de comentaristas em mídias como jornais e blogs, e tudo indica que
o processo é irreversível e nas últimas duas décadas, o conceito de
globalização vem se expandido além do mero comercio internacional e hoje em dia
já inclui o tema educação, não usando o jargão globalização, mas usando uma
abordagem de universalização. Um ponto a ser observado é como se desenvolveu o
processo de universalização curricular de conteúdos e línguas no mundo. Neste
aspecto, a Declaração de Bolonha (1999) trouxe novas perspectivas para o ensino
superior em toda Comunidade Europeia. Face a grande diversidade cultural e
linguística dentro de uma mesma comunidade, é na Europa que vemos a prática da
AICLE em uma de suas expressões de máxima aplicabilidade, seja no próprio nível
superior com a declaração de Bolonha e todas as medidas tomadas desde então,
seja em toda a estrutura escolar na prática de AICLE.
Neste sentido, Siebiger (2010) nos traz
uma visão da repercussão em outros continentes da reforma da educação superior
europeia, que no Brasil, entre outras, refletiu-se na criação da Universidade
Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e Universidade Federal da
Integração Amazônica (Uniam) e da criação da Universidade Federal da Integração
Latino-Americana (Unila). Lançada em 2007, a proposta foi aprovada na Câmara dos
Deputados em 2009 pelo Projeto de Lei n. 2.878/2008 e em 12 de janeiro de 2010,
o Governo Federal, por meio da Lei n. 12.189, criou oficialmente a Universidade
Federal da Integração Latino-Americana (Unila), situada fisicamente na cidade
do Foz do Iguaçu (PR), tendo como premissa, conforme texto da lei, a “atuação
nas regiões de fronteira, com vocação para o intercâmbio acadêmico e a
cooperação solidária com países integrantes do Mercosul e com os demais países
da América Latina”.
Neste sentido, o Projeto da Unila prescreve
a reserva de 50% das suas vagas para alunos brasileiros e a outra metade a alunos
de outros países latino-americanos signatários, tendo os cursos ofertados serão
bilíngues (aulas em espanhol e português) e com abordagem interdisciplinar. Os
cursos superiores cobrem todas as áreas do conhecimento e a Unila prevê um
processo de equivalência curricular bem como de transferência e aproveitamento
de créditos, reconhecimento de títulos e o estímulo à mobilidade acadêmica
interinstitucional entre os países-membros.
De uma forma geral tanto no caso europeu
como no caso da Unila no Brasil, uma maior facilidade e quiçá, sucesso do
desempenho estudantil, está na preparação do aluno em desenvolver, previamente
ao ingresso nas instituições de nível superior, o estudo de conteúdos em
línguas não-materna. A prática da AICLE, como muito já discutido, integra o
conteúdo, a língua e as competências e expõe o aluno, mesmo que já com
habilidade linguística obtida domesticamente (CCIB ou Competências
Comunicativas Interpessoais Básicas) a avançar na complexidade cognitiva e
passar a um nível mais complexo do domínio da língua (DCLA ou Domínio Cognitivo
da Linguagem Acadêmica). Neste aspecto, e considerando as hierarquias
cognitivas de Bloom (1974), a aprendizagem conjunta de uma língua (seja materna
ou uma segunda língua) em conjunto com a aprendizagem de conteúdos leva o aluno
aos mais elevados graus da cadeia cognitiva, realizando pleno ato da
aprendizagem.
Depois de percorrida estas considerações
sobre a necessidade de aplicar nas práticas AICLE desde já nas escolas, por
onde apresentamos os motivos que nos fez julgar a favor da adoção das práticas
AICLE, voltemos nossa atenção às questões sobre sua aplicabilidade.
A prática AICLE prevê a convergência do
aprendizado simultâneo de língua e conteúdo. Em considerando a premissa "every
learning is language learning" (the key slogan of LAC - Languages Across the Curriculum, Council of
Europe (European Centre for Modern Languages, Graz, 1997), que em uma tradução
livre seria “Todos os professores de línguas são professores de conteúdo”, já
nos dá uma perspectiva da confluência dos aspectos de conteúdo, a língua e as
competências.
Nos
modelos clássicos da organização da Escola (e todos os seus valores como
instituição de ensino), línguas (seja a língua materna ou uma segunda língua) e
demais conteúdos como matemática, química, história, entre outros, são
disciplinas distintas e estanques. Mas de fato, esbarramos na condição de que
não se aprende um conteúdo sem aprender uma língua, visto haver necessidade, a
cada degrau da evolução das disciplinas, seja em sua especialização de temas
seja na abertura de novos temas, de se adequar o vocabulário utilizado bem como
a devida construção mental das ideias afins relacionadas. Esta abordagem corrobora
a afirmação de que “Todos os professores de línguas são professores de
conteúdo” e mais, podemos também colocar que “todo professor de conteúdo é
professor de língua”.
Mas ao se chegar nesta parte de nossa
reflexão sobre AICLE, com base nos argumentos, premissas e fatos apresentados,
não temos mais dúvidas sobre a necessidade ou não de implantar o AICLE, mas nos
vem as perguntas: quais disciplinas implantar o AICLE, quem serão os
professores e quais os contextos didático-pedagógico será feita esta
implantação e quais materiais utilizar.
Neste contexto, em referência a pesquisa
“Eurydice” (2006) da Comissão Europeia, experts chegaram a conclusão que
qualquer disciplina das oferecidas pode ser escolhida para AICLE. Por outro
lado, observando-se as hierarquias cognitivas de Bloom (1974), a aprendizagem
conjunta de uma língua (seja materna ou uma segunda língua) em conjunto com a
aprendizagem de conteúdos leva o aluno aos mais elevados graus da cadeia
cognitiva, ou seja, a AICLE deve ser aplicada em disciplinas eu se façam uso
destes elevados graus da cadeia cognitiva, tipicamente praticado em disciplinas
de ciências sociais, história e geografia, que são consideradas disciplinas
“linguisticamente ricas”.
Ao tentar trabalhar em outras línguas o
professor mantém uma estreita relação entre ensinar e estar habilitado com um
novo conhecimento, uma nova língua, a formação do professor não o habilita para
outras linguagens, e trabalhar conteúdos sem uma formação apropriada é uma
corda bamba muito difícil de manusear na sala de aula, ensinar outras línguas é
ir além do que pede a formação do professor, e como estar nesse ciclo de
educação sem uma formação adequada? Como o professor é multicultural é preciso
se desdobrar em muitos e em outras línguas, e os conteúdos precisam ser bem
preparados para que a frustação não seja dupla.
Como a AICLE não é obrigatória, mas, é
necessária no sistema de aprendizagem do aluno, o professor precisa passar por
uma formação em línguas diferentes, não para ser fluente, mas com um
embasamento avançado para trabalhar os conteúdos na sala de aula. É fundamental
que se precise conhecer inglês, espanhol, francês, e assim adaptar o material
para a educação dos estudantes.
Criar já exige um pouco dos conhecimentos
do professor, por que a vida corrida do professor exige muito e se torna mais
fácil adaptar que criar. Não seria de muito valia importar professores para a
aplicação de uma metodologia a ser trabalhada em outra língua, logo por que
custaria caro para o sistema de educação e, pois, seria um avanço muito grande
e tornaria confuso a aprendizagem do aluno, uma vez que o mesmo não entende
muito de uma outra língua. Investir na formação do professor seria a correto a
fazer até mesmo por que deixaria o professor atualizado dentro de muitos
conteúdos e outras informações necessária a formação do aluno dentro do sistema
de ensino e aprendizagem.
Muitas instituições de
ensino adotaram, anos atrás, a premissa que “a globalização é um fato”, e
também aproveitando a necessidade de algumas famílias que, por motivos
usualmente profissionais, necessitam passar um certo período no exterior e por
isso, necessitam que seus filhos frequentes instituições escolares com
currículos propostas pedagógicas semelhantes e reconhecidas internacionalmente,
foi desenvolvido o programa IB - International Baccalaureate (www.ibo.org).
O programa IB consiste na disponibilização de um programa comum,
dividido em 4 categorias: Primary Years Programme, Middle Years Programme,
Diploma Programme e Career-related Programme, sendo cada programa voltado para
uma faixa etária / situação escolar do aluno (por exemplo, os dois primeiros
programas no Brasil são aplicados na educação infantil e ensino fundamental I
(PYP) e no ensino fundamental II (MYP) e podem ser desenvolvidos em três
idiomas (não simultaneamente): inglês, espanhol ou francês.
Uma escola que adote o programa IB tem seu projeto pedagógico
original alterado para atender os requisitos IB (e com isso, poder ser uma
escola IB certificada) bem como deve atender aos requisitos locais referentes a
educação formal. No caso de escolas IB brasileiras, elas devem atender a toda
legislação federal, devendo seguir a LDB.
O programa se desenvolve focado no conceito AICLE, onde um grupo
de disciplinas são lecionadas no idioma escolhido pela instituição. Além das
determinações regulatórias, a proposta pedagógica das disciplinas deve
considerar que “os programas IB incentivam a realização pessoal e acadêmica,
desafiando os alunos a se destacarem em seus estudos e no seu desenvolvimento
pessoal”.
Hoje no Brasil, conforme site International Baccalaureate
Organization, tem 29 instituições escolares autorizadas e praticando os
princípios IB, com a aplicação de AICLE em múltiplas disciplinas formando
compreende oito grupos de assuntos: Aquisição delinguagem, Linguagem e
literatura, Indivíduos e sociedades, Ciências, Matemática, Artes, Educação
física e de saúde, e Projetos educacionais.
O programa IB exige pelo menos 50 horas de tempo de ensino para
cada grupo de assunto em cada ano do programa, totalizando cerca de 400 horas
de disciplinas lecionadas na modalidade AICLE. Apenas como referência, pela Lei
de Diretrizes e Bases (LDB), que regulamenta a Educação no Brasil, as escolas
devem cumprir, no mínimo, 800 horas letivas no ano, em pelo menos 200 dias
letivos anuais,
Nos anos mais adiantados do programa, as escolas têm a opção de
fazer disciplinas de seis dos oito grupos apenas, para proporcionar maior
flexibilidade para atender aos requisitos legais locais e às necessidades
individuais de aprendizagem dos alunos conforme projeto pedagógico
institucional. Os materiais didáticos e de apoio são desenvolvidos pela própria
International Baccalaureate Organization.
Tomando como exemplo a Escola Esfera de São José dos Campos, SP,
voltada para a educação infantil e fundamental (I e II), esta é certificada
pela International Baccalaureate Organization e adota o programa IB PYP e MYP
na modalidade AICLE. A opção do idioma para a prática do AICLE foi o inglês
(mas também tem disciplina de língua estrangeira , em espanhol). Os materiais
didáticos são basicamente materiais apostilados seguindo tanto o conteúdo
programático definido pela LDB e regulação complementar como também atendem as
exigências de conteúdo definido nos programas da IBO.
A Escola Esfera tem no seu corpo docente professores regulares que
lecionam na língua nativa (português) as disciplinas que não compõem o escopo
IB bem como para as disciplinas IB lecionadas em AICLE, tem um corpo docente
composto por 10 profissionais dedicados a este programa, sendo metade de
professores brasileiros capacitados em lecionar no idioma inglês e metade dos
professores nativos de países de língua inglesa, sendo, nesta escola, pessoas
oriundas da Inglaterra (3) e Austrália (2).
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
BLOOM, Benjamin S.
et al. Taxionomia de objetivos educacionais; volume I: domínio cognitivo. Porto
Alegre: Globo, 1974.
BRASIL. Lei de
Diretrizes e Bases. Lei N° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em 05 jan. 2018
GARDNER, R. C;
LAMBERT, W. E. Motivational Variables in Second Language Acquisition. Canadian
Journal of Psychology, v. 13, 1959, p. 266-272.
SIEBIGER, R.
(2010). O processo de Bolonha e os novos espaços transnacionais de educação
superior latino-americanos: a universidade brasileira em movimento. Cadernos
PROLAM/USP, 9(17), 119-135.
doi:http://dx.doi.org/10.11606/issn.1676-6288.prolam.2010.82439, consultado em.
http://www.revistas.usp.br/prolam/article/view/82439/8
Muito bom o trabalho parabens
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