Ailton Barcelos da
Costa
Aluno de
Matemática/ UFSCar
ALOJAMENTO DA
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Resumo:
O texto trata da dificuldade de aprendizagem dos alunos na Educação de Jovens e Adultos - EJA, sob o ponto de vista cognitivo, da teoria de Piaget.
Inicia-se as noções sobre conhecimento e considerações sobre o estagio
de desenvolvimento cognitivo, seguindo para uma analise sobre o nível de
operatoriedade dos alunos da EJA.
Palavras-chave: Piaget; Ensino de Jovens e Adultos; Nível de Operatoriedade.
- Introdução
Para Piaget (1973), “Não é o conhecimento do teorema de Pitágoras que
irá assegurar o livre exercício da inteligência pessoal: é o fato de haver
redescoberto a sua existência e a sua demonstração”.
Primeiramente deve-se começar a
discussão sobre o que é aprender, e como se aprende, e para isso vamos usar
alguns conceitos de Piaget relativos ao processo de desenvolvimento, tentando
mostrar que a aprendizagem está ligada a esses processos.
Pode-se do inicio dizer que, segundo Ortiz (2002), não se aprende da
mesma maneira emtodas as idades, pois a capacidade
de construção de novos conhecimentos é determinada pelas estruturas de
pensamento que o sujeito possui antes de tentar assimilar ou compreender o novo
objeto.
A teoria de Piaget só será útil em sala de aula se os professores passem a questionar-se como modificar o ambiente
escolar.
Assim, o objetivo da educação é formar pessoas capazes de desenvolver um
pensamento autônomo, e dentre desse conceito temos que entender a dinâmica da
sala de EJA, para construção de não só estudos científicos, mas também relações
interpessoais.
Então, a primeira tarefa da educação consiste em garantir a todo
indivíduo a oportunidade de construir os instrumentos psicológicos que lhe
permitam raciocinar com lógica, conquistar a autonomia e tornar-se um cidadão
capaz de contribuir para as transformações sociais e culturais da sociedade,
dentre outras.
- Noções sobre conhecimento
Estudando os processos pelos quais a criança adquire o conhecimento,
Piaget chega às relações entre desenvolvimento e aprendizagem, que são
processos diferentes, ou seja, o desenvolvimento do conhecimento é um processo
espontâneo, ligado ao desenvolvimento do sistema nervoso e das funções mentais,
terminando somente na vida adulta. Já a aprendizagem é diferente, pois ela é
provocada por situações, além de contrária ao que é espontâneo, é um processo limitado
a um problema simples ou uma estrutura simples.
Assim, o desenvolvimento explica que
a aprendizagem é um processo essencial e cada elemento dela ocorre como função
do desenvolvimento total, e não se chega a apreender da mesma maneira em todas
as idades, pois a capacidade de formação de conhecimentos novos é determinada pelo estágio de desenvolvimento do
sujeito.
Piaget considera que o
desenvolvimento de cada pessoa passa por várias fases, consideradas como
estágios: sensório-motor, pré-operatório, operacional concreto e operacional
formal.
A passagem pelos estágios não
pré-programados vai depender dos seguintes fatores: maturação interna, ações
sobre os objetos, interação social e equilibração.
Então, dentro de uma perspectiva mais
funcional de como o sujeito atua cada estágio se caracteriza por uma maneira de
abordar os problemas e de enfrentar a realidade.
A busca pela adaptação ao meio em que
vive é inerente ao sujeito, e esta adaptação se realiza através da ação, a qual
é um elemento central da teoria, sendo responsável pela interação do
sujeito-objeto.
3.
Considerações sobre os estagio de desenvolvimento
Segundo Piaget, cada estágio
caracteriza-se por uma estrutura de conjunto, a qual se
expressa de maneira lógico-matemática e traduz a organização subjacente das
ações (Delval, 2001).
Segundo, Ortiz (2002), os estágios
obedecem a uma ordem seqüencial invariável, e o que pode sofrer alterações é a
velocidade e a duração das construções, as quais dependem da estimulação do
meio em que o sujeito está inserido. Também é preciso levar em contacaracterísticas dos estágios; a conservação das aquisições
anteriores. Uma vez construída uma estrutura, não há possibilidade de o sujeito
esquecer o conhecimento resultante dessa construção. As estruturas mantêm-se e
dão forma a todos os conteúdos, de tal modo que o sujeito de um determinado
estágio, que adquire um conhecimento; irá adquiri-lo, apoiando-se nas
estruturas que possui, ou seja, em seus conhecimentos anteriores e em uma
determinada maneira de abordar os problemas.
Os estágios são universais,
independentes da raça, cultura ou nível
socioeconômico, passando todos pela mesma seqüência na construção das
estruturas cognitivas.
Piaget definiu o desenvolvimento cognitivo como um crescimento
intelectual no qual podem distinguir-se quatro grandes estágios:
• Estágio da
inteligência motora (0-2 anos) – O comportamento é
basicamente motor, a criança ainda não faz representações, e é anterior ao
aparecimento da linguagem, sendo marcado por um extraordinário desenvolvimento
da linguagem.
• Estágio do
pensamento pré-operacional (2-7 anos) – caracterizado
pelo surgimento da linguagem e outras formas de representação. O sujeito se
torna apto a representar, e é uma conquista do estágio pré-operatório. As
representações pela ordem de aparecimento são: a imitação, o jogo simbólico, o
desenho, a imagem mental e a linguagem. Nessa fase, o sujeito não admite a
existência de pontos de vista diferentes
dos dele, é o egoísmo. A superação do egocentrismo permite ao sujeito descentrar
mais e acompanhar transformações simples, o que, por sua vez, possibilita a
construção da reversibilidade.
• Estágio das
operações concretas (7-11 anos) – desenvolvimento
do pensamento lógico para problemas concretos. Nesse estágio, ele não apresenta
dificuldades na solução de problemas de conservação e tem argumentos corretos
para suas respostas. Já se torna capaz de realizar todas as operações
cognitivas e, o que é mais importante, já alcança a reversibilidade das
operações mentais. Do ponto de vista cognitivo, o desenvolvimento mais
importante, que ocorre no estágio das operações concretas, é a construção das
operações lógicas,
• Estágio das
operações formais (11-15 anos) – desenvolvimento
do raciocínio lógico para todas as classes de problemas. Esse estágio é
caracterizado pelo raciocínio científico e pela construção de hipóteses as
quais refletem uma compreensão altamente desenvolvida da causalidade. O sujeito
pode operar com a lógica de um argumento, independente do conteúdo.
- Diagnóstico da EJA
Segundo Ortiz (2002), todos os
adultos, quando se integram a programas de educação básica, têm uma idéia do
que seja a escola, apesar de um passado e uma
experiência desastrosa. Lembra-se da escola com carinho e sentem, com pesar, o
fato de terem-na abandonado, ou de nunca terem tido a chance de freqüentá-la.
Não se pode refletir sobre a Educação
de Jovens e Adultos sem relacioná-la diretamente à forma desigual como a
sociedade está estruturada.
Os cursos de alfabetização de adultos
existem, exatamente, pela falta objetiva de oportunidades educacionais que
garantam às crianças o acesso à escola, bem como à sua permanência, haja vista
os altos índices de evasão escolar.
As dificuldades sociais, vivenciadas
por parte dos alunos, afastam-nos da escola, pois não a encontram voltada a sua
realidade e; sem expectativa de progressão social, intelectual e cultural,
abandonam os estudos.
As recriminações, a exclusão, os
ataques à auto-estima e o desrespeito vivido dentro do sistema escolar também
são freqüentes responsáveis por esse fracasso.
Aqueles, que já passaram pela escola,
são portadores de uma história escolar marcada pelo fracasso, por incompetência
da escola em não saber atender à necessidade do aluno.
Sendo assim, a falta de conhecimento
do professor da EJA de como o sujeito constrói seu conhecimento também
dificulta o conhecer dos seus alunos e continua julgando o que desconhece.
- Desafios da EJA
A escola precisa trazer para dentro
dela as situações próprias do contexto cultural, mas, trazer, simplesmente,
situações de vida para a escola não garante a qualidade da educação. Logo, o
ensino deve adaptar-se às condições do progresso científico e preparar
inovações, tudo aquilo que é necessário à construção de uma consciência crítica
e moral.
A escola tem trabalhado, de forma
básica, na transmissão de conteúdos que, se forem tratados, simplesmente, como
informações, não levarão o aluno a operar sobre eles para chegar a uma compreensão. Poderemos, então,
dizer que a situação escolar, em especial, se tratando de educação de adultos,
é uma educação tradicional.
Sob ponto de vista do
desenvolvimento, a escola está despreparada teórica e praticamente para
enfrentar o problema da educação para todos.
Há, nesse momento de busca, a
necessidade de se olhar o presente para se definir o futuro.
Todos sofrem a crise de paradigmas da
educação; e em geral crise exemplificada pelo fracasso da maioria dos programas
de alfabetização.
Podemos afirmar que crise, incerteza
e fragmentação também atravessam outroscampos e determinam boa
parte dos discursos atuais. Diante de tantas dificuldades, a solução está num
maior desenvolvimento do sujeito e do próprio sistema educativo.
- Contribuições de Piaget e EJA
A contribuição de Piaget pode nos levar a compreender o que ocorre, cognitivamente,
para que haja aprendizagem na sala de aula, pois a
compreensão do processo de desenvolvimento, uma vez que este não ocorre por
simples maturação, mas devido às trocas do indivíduo com o meio que o cerca.
O cotidiano e a vida familiar colocam,
muitas vezes, com mais propriedade que a própria escola, situações de desafio que exigem do sujeito um
rearranjo de suas estruturas cognitivas, propondo condições, às vezes
excelentes, para a produção de abstrações.
Assim, é essencial conhecer-se a vida de uma população, que exigem o uso
de um pensamento dedutivo, o aproveitamento dessas situações, no espaço
escolar, contribuirá para o desenvolvimento de um pensamento operatório nos
alunos, criando situações que privilegiem processos de abstração reflexionante
e, em especial, de abstração refletida.
Embora entendendo que a solução para
a realidade do aluno esteja condicionada a questões que ultrapassam o muro da
escola, é necessário que a prática pedagógica contribua para que o aluno
encontre oportunidade de construir o raciocínio crítico, pois a falta de um
projeto pedagógico adequado à realidade da EJA vem colaborar com a evasão e com
a falta de compromisso da escola na construção do saber dos alunos.
Assim, passando à teoria de Piaget,
sabemos que ele considerou o desenvolvimento cognitivo como tendo três
componentes.
Conteúdo é o que se conhece, refere-se aos comportamentos observáveis que
refletem a atividade intelectual. Pela sua natureza, o conteúdo da inteligência
varia, consideravelmente, de idade para idade e de sujeito para sujeito.
Função refere-se àquelas
características da atividade intelectual – assimilação e acomodação – que são
estáveis e contínua no decorrer do desenvolvimento cognitivo.
Estrutura refere-se às propriedades organizacionais inferidas que explicam a
ocorrência de determinados comportamentos.
Portanto, quando, na escola,
pretende-se favorecer uma aprendizagem com compreensão, que vai muito além da
repetição de respostas certas e que é fruto de uma atividade mental construída
pelo aluno, em que ele incorpora às suas estruturas cognitivas os significados
relativos ao novo conteúdo, é necessário levar em conta as vivências e
conhecimentos do aluno de EJA.
Para aprender qualquer conteúdo
escolar, o aluno da EJA precisa atribuir um sentido e construir significados
para tal conteúdo. Para que isso ocorra, o aluno não pode partir do nada, deve
relacionar o novo conteúdo com as idéias, conceitos, informações e
conhecimentos já construídos no decorrer de sua vida. A possibilidade de estabelecer
relações entre um conteúdo novo e os conhecimentos prévios que o aluno já
possui é que facilitará a sua compreensão e desencadeará uma aprendizagem
significativa.
Para que uma proposta de trabalho para a EJA tenha significado, faz-se
necessária uma investigação sobre em que nível operatório os alunos estão, para
que, a partir desses resultados, tal proposta possa contribuir para a formação
autônoma do sujeito.
Então, a questão é:
- Qual o nível de operatoriedade dos alunos da Educação de Jovens e Adultos?
Tendo em vista que o nosso sistema
educacional enfrenta uma crise, de proporções cada vez maiores, parece-nos
necessário salientar que a evasão escolar aumenta a demanda do Ensino de Jovens
e Adultos.
Considerando-se que a educação deve favorecer a aprendizagem efetiva do
aluno, torna-se necessário conhecer o nível de operatoriedade do aluno da EJA,
a fim de que ele encontre, na escola, um ambiente propício para tornar-se um
cidadão consciente.
Através do conhecimento do nível de
operatoriedade, pode-se construir uma proposta pedagógica que possibilite aos
alunos aprenderem a aprender, para desenvolverem suas capacidades e
habilidades, quando eles próprios possam, a partir de suas vivências,
reinventar e reconstruir o que já sabem.
Sendo assim, pesquisas sobre o nível operatório dos alunos da EJA, os
quais os resultados encontrados demonstram que o maior número de sujeitos
apresenta níveis mais elementares de operatoriedade.
Os sujeitos apresentam um pensamento
de nível operatório elementar das operações concretas, ligado ao contexto da
experiência pessoal.
Com essa dificuldade, pode-se
concluir que o fracasso escolar não fica determinado apenas no aspecto do
desenvolvimento social, mas a escola ainda tem um conjunto de questões e
problemas a ser resolvido para poder cumprir com a sua obrigação na formação do
Homem, que vai além dessa análise aqui apresentada.
- Mudanças na pratica pedagógica da EJA
Entre as mudanças, que Ortiz (2002),
sugere na prática pedagógica dos professores da EJA, destaco:
• a recuperação, por parte dos
professores, do controle do processo educativo, que será alcançado mediante a
colaboração e participação de todos, bem como da participação de projetos na
formação continuada;
• a colocação dos alunos da EJA
perante todo tipo de conhecimento, em contato com o saber, a experiência e a
realidade;
• a escola deve estar
inter-relacionada com toda a comunidade para não criar exclusão e garantir a
todos o direito à educação, à liberdade e à felicidade;
• a necessidade de a escola da EJA
transformar-se em uma instituição que possua um sistema educativo democrático.
Todavia, os professores precisam de
clareza para desenvolver uma prática educativa, que venha a possibilitar a
aprendizagem do aluno, não se esquecendo de que cada pessoa pensa de maneira
diferente, usando métodos diferentes, estratégias e instrumentos conforme a
atividade que esteja realizando; não esquecendo que o caminho da aprendizagem
não tem uma única forma, que deve ser um processo aberto, já que há limites e
possibilidades de construção do conhecimento de indivíduo para indivíduo.
Nesse sentido, diferenças individuais
e diferenças culturais se fundem, formando a heterogeneidade a partir dos
indivíduos em diferentes atividades, ao longo do processo de aprendizagem.
Finalmente, vemos que a contribuição
da teoria piagetiana não se restringe somente à ação pedagógica, mas também
pode constituir-se num referencial à análise de orientações de diretrizes de
Política Educacional para a Educação de Jovens e Adulto.
BIBLIOGRAFIA
- DELVAL, Juan. Aprender na Vida e Aprender na Escola. Porto Alegre. Editora
Artmed. 2001.
- Ortiz, Maria Fernanda Alves. Educação de Jovens e
Adultos: Um estudo de nível operatório dos alunos. UNICAMP: Campinas, 2002.
Dissertação de Mestrado.
- PIAGET, Jean. Para onde vai a Educação? Rio de Janeiro. Livraria
José Olympio Editora. 1973.
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